Representante do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Antônio participa de encontro no Vaticano para tratar de impactos da mineração


13 ago/2015

Encontro foi realizado no Selesianum de Roma e contou com a participação de representantes da África, Ásia e Américas

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Com o tema “Em União com Deus, Ouvimos um Apelo”, o Conselho Pontifício de Justiça e Paz do Vaticano se reuniu com representantes de comunidades afetadas pela mineração na África, Ásia e Américas para recolher provas, partilhar experiências e propor ações capazes de minimizar os impactos da atividade. Realizado a portas fechadas no Salesianum  de Roma, entre os dias 17 a 19 de julho, o encontro contou com a participação de três brasileiras, dentre as quais Patrícia Generoso Thomas Guerra, representante da REAJA – Rede de Articulação e Justiça Ambiental dos Atingidos do Projeto Minas-Rio. Patrícia é conselheira do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Santo Antônio, há mais de cinco anos.

Mineração em discussão

A mineira Patricia Generoso Thomas Guerra, é uma das pessoas atingidas pelo projeto de mineração Minas-Rio, da Anglo-American, em Conceição do Mato Dentro, interior de Minas Gerais. Faço parte de uma comunidade que sofreu um impacto imensurável em razão da instalação deste projeto”, conta Patrícia. Ela explica que as consequências nas comunidades onde atua em Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas. “O projeto causou degradação e assoreamento das águas que utilizávamos tanto para consumo humano quanto animal. Além disso, a produção de queijos e doces e as atividades de recreação também foram afetadas”.

Convidada pelo Pontifício Conselho de Justiça e Paz (PCJP) do Vaticano a participar de uma entrevista coletiva, Patrícia “relatou os impactos da mineração sobre os recursos hídricos, uma vez que a Anglo American utiliza a água tanto no processo de extração quanto no transporte do minério de ferro”. (Confira entrevista: http://goo.gl/0bOFnq)

Na coletiva, ela observou que a piora da qualidade das águas na Bacia do Santo Antônio, especificamente na sub-bacia do Rio Peixe, já é evidente. “O dado positivo é que, nos últimos anos, a questão deixou de ficar oculta como ocorreu no começo deste projeto. Por mais que algumas pessoas tentem subestimar este fato, isso já ganhou repercussão internacional. Prova disso é que fomos convidados a debater a questão no Vaticano sem que houvesse demanda nossa perante aquele Conselho”.

Bem estratégico

Ainda de acordo com a representante do CBH-Santo Antônio, os participantes do encontro apontaram a água como o bem mais estratégico do planeta. Daí a iniciativa do Conselho Pontifício de Justiça e Paz do Vaticano de debater o assunto. “Atualmente, estamos presenciando medidas contingenciais que restringem o direito de acesso da população à água nos grandes centros, como estabelecimento de rodízio e aumento de tarifas. Mas, como a lei garante o uso prioritário do recurso para consumo humano e animal, as medidas contingenciais deveriam, por força de lei, serem impostas a outros usos intensivos, com a revisão e redução de volumes de água outorgados às mineradoras, a atividades industriais e outras que concorrem com os usos prioritários”, avalia.

Participaram do encontro lideranças de 18  países: Chile, Peru, Brasil, Colômbia, Honduras, Guatemala, El Salvador, República Dominicana, México, Estados Unidos, Canada, Suíça, Itália, Moçambique, Gana, República Democrática do Congo, Índia e Filipinas. Também estiveram presentes 15 representantes das conferências episcopais, congregações e redes como a Caritas, CIDSE, Iglesias y Mineria, Franciscanos e JPIC e Mineração.

Confira o trecho da mensagem do Papa sobre o evento

 “Se escute o grito de muitas pessoas, famílias e comunidades que sofrem direta ou indiretamente, a causa das consequências muitas vezes negativas das atividades de mineração (… ) Um grito pelas terras perdidas; um grito pela extração das riquezas do solo que, paradoxalmente, não produz nenhuma riqueza para a população local que permanece pobre; um grito de dor em reação às violências, às ameaças e à corrupção; um grito de indignação e de ajuda pelas violações dos direitos humanos, de forma discreta ou descaradamente pisoteados no que diz respeito à saúde das pessoas, condições de trabalho, às vezes pela escravidão e tráfico de seres humanos que alimenta o fenômeno trágico da prostituição; um grito de tristeza e de impotência pela poluição da água, do ar e do solo; um grito de incompreensão pela falta de processos inclusivos e de apoio por parte das autoridades civis, locais e nacionais, que têm o dever fundamental de promover o bem comum”.

 

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Fotos: Jovanny Krawinkel